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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

É preciso celebrar o altar da gestualidade


A problemática da comunidade surda portuguesa vai estar em destaque nas conferências «A Inclusão e o Pensar as Diferenças» e «Redes Educativas locales: la educación inclusiva», hoje às 17h30, na Universidade Portucalense, no Porto. Organizadas pelo Departamento de Ciências da Educação e do Património da Universidade Portucalense, em parceria com universidades espanholas, estas são as primeiras das várias iniciativas a realizar até Outubro.

Em conversa com o «Ciência Hoje», António Vieira, especialista em educação especial, coordenador do«Gestuário da Língua Gestual Portuguesa» e organizador desta iniciativa, considera que “se a sociedade não estiver apetrechada com conhecimentos que possam integrar estas pessoas, estas vão continuar arredadas da comunicação”.
O défice de docentes habilitados para interagirem com os cidadãos portugueses com Necessidades Educativas Especiais deixa dez mil surdos portugueses sem o devido acompanhamento escolar, por não terem professores que gestualizem” com eles. “É preciso celebrar o «altar da gestualidade», numa sociedade completamente virada para a oralidade, considera o professor.

Apesar da língua gestual portuguesa ter sido reconhecida oficialmente em 1997 como língua materna da comunidade surda em Portugal, ainda falta percorrer um grande caminho para que essas pessoas consigam ser efectivamente incluídas na sociedade.

O Estado tem-se descartado dessa sua função”, considera António Vieira. Enquanto para a aplicação médica de próteses auditivas o estado dá apoio, já não o dá para a educação nesta área, explica.
Deveria ser obrigatório o Ministério da Educação assumir a educação de docentes e técnicos e prepará-los para conseguirem lidar com estas pessoas a nível de comunicação.

Como o governo não tem assumido as suas responsabilidades, têm sido os privados a realizar o trabalho, na medida das suas capacidades”, diz. “A Universidade Portucalense está a formar docentes habilitados na área da linguagem gestual para serem professores do ensino especial”.

No entanto, o problema não se prende apenas com a inclusão da língua gestual nas escolas, tanto a nível de professores como dos próprios funcionários. Os pais das pessoas surdas, que normalmente são ouvintes, muitas vezes não podem comunicar com os filhos pois não lhe são dados nenhum tipo de apoios para aprenderem a língua gestual. Por outro lado, dão o apoio de cinco mil euros para a aplicação de próteses, o que não resolve o problema.

É preciso apostar numa formação capaz e condigna para que cada que os surdos sejam cidadãos de primeira”, considera. “Neste ano, em que se assinala a problemática da pobreza e da exclusão social, e em tempos de crise, não se pode perder de vista a dignidade humana. E tem faltado vontade política para avançar”.

A próxima conferência vai realizar-se dia 12 de Julho, em Coimbra, a seguinte dia 11 de Outubro, em Lisboa e dia 8 de Novembro a Universidade de Évora recebe a última. As de hoje serão proferidas por António Magalhães, docente da Universidade do Porto e por Angeles Parrilla, docente da Universidade de Sevilha.

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